"O Brasil é o sétimo maior emissor de gases efeito estufa no mundo. São emitidos ~2.2 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2eq) todos os anos, sendo que metade vem do desmatamento (e cerca de 80% do desmatamento acontece no bioma da Amazônia). Em paralelo, a Amazonia representa 60% do território brasileiro, mas gera menos de 10% do PIB do brasil (fonte: IBGE 2018)."
1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?
Meu interesse com a sustentabilidade começou lá atras durante a faculdade me envolvi com o Enactus (associação estudantil global que promove o empreendedorismo para gerar impacto social positivo) e lá descobri o conceito “negócios de impacto”. Me apaixonei por isso, mas na época que me formei não existia ainda (ou pelo menos eu não conhecia) uma alternativa de trabalhar com negócios de impacto de uma forma a conciliar com um crescimento de carreira. as oportunidades que eu tinha conhecimento eram sempre ligadas a ongs, etc.
Dito isso, quando fui procurar meu primeiro estágio, escolhi trabalhar na Unilever, que lá em 2015 já era uma empresa pioneira na agenda de sustentabilidade/esg - na época eles já falavam sobre sustentabilidade, sobre liderança feminina etc.
Logo depois tive a oportunidade de ser trainee na ambev, e abracei essa oportunidade com tudo, encarei a ambev como uma escola: de gestão, de liderança, de resultado etc. depois de cinco anos muito felizes, durante a pandemia enquanto repensava minha vida eu tive certeza que queria pivotar minha carreira para começar a trabalhar em uma indústria que tivesse como core business algum impacto positivo no mundo.
Tive um momento de transição, em que trabalhei em uma consultoria de inovação global em conheci melhor a tese do mercado de carbono. já estava encantada pelo mercado, quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Carbonext. Hoje eu sou responsável pela estratégia e gestão do comercial da empresa e nunca estive tão realizada profissionalmente na minha vida. é muito gratificante trabalhar em uma agenda tão relevante quanto a da preservação da floresta amazônica. hoje encaro isso como um projeto de vida, fico muito feliz em fazer parte da construção desse mercado tão importante para o brasil e para o mundo.
2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?
O Brasil é o sétimo maior emissor de gases efeito estufa no mundo. São emitidos ~2.2 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2eq) todos os anos, sendo que metade vem do desmatamento (e cerca de 80% do desmatamento acontece no bioma da Amazônia). Em paralelo, a Amazonia representa 60% do território brasileiro, mas gera menos de 10% do PIB do brasil (fonte: IBGE 2018). A Carbonext endereça esses dois problemas através de projetos de preservação na floresta amazônica. Hoje cuidamos de > 2 milhões de hectares de floresta, em que vivem milhares de familias/comunidades e especies de fauna e de flora, muitas em risco. Financiamos a preservação através de créditos de carbono que vendemos no mercado voluntário.
3. Quais são os números ou insights de mercado que mais entusiasmam você no espaço de SBN?
O Brasil é o país com maior potencial no mundo para abater ou sequestrar o carbono da atmosfera usando soluções climáticas naturais. Temos o potencial de capturar cerca de 15% do carbono da atmosfera através de iniciativas como preservação, restauração de biomas e uma melhor captura de carbono no solo pela agricultura.
Além disso, apesar de sermos o sétimo maior país emissor de GEE no mundo, somos um dos países mais baratos para descarbonizar a nossa econômica. Enquanto países como China, Estados Unidos e outros Europa tem como principal fonte de emissão de GEE a matriz energética (que seria um dos pontos mais custosos para descarbonizar a economia), nós já temos uma matriz bem mais limpa que a média - nosso principal desafio para descarbonizar a economia é combater o desmatamento ilegal e melhorar o uso do nosso solo. Dessa forma, com um custo próximo a US$20 por tonelada de CO2e, o Brasil conseguiria ativar 95% das alavancas necessárias para descarbonização, enquanto para economias mais desenvolvidas esse custo pode superar os US$100.
4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidos, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?
No caso da agenda de crédito de carbono voluntário, os pontos decisivos são:
A nível global:
Coordenação com Agencias Emissoras de Crédito (ex: VERRA) para diminuir custos e agilizar o processo de certificação e emissão de créditos.
Avanço das agendas de Integridade (ex: ICVCM) para trazer mais credibilidade e robustez ao mercado.
Regulamentação dos Mercados Regulados para que incluam créditos de carbono do mercado voluntário.
A nível Brasil:
Endereçar as deficiências regulatórias (ex: documentação fundiária, etc..)
Desenvolvimento uma governança de mercado sólida
5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar um termo no espaço das SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?
Quero trazer a luz a questão das críticas que vem sendo feitas aos projetos de REDD+. É super importante todas as iniciativas da imprensa que visem chamar à responsabilidade os projetos que não respeitam preceitos de integridade. No entanto, é fundamental a separação entre quem conduz projetos de carbono da forma correta de quem conduz da forma errada.
O tema de titularidade das terras é, dentre outros, um desafio relevante na Amazônia e aqui na Carbonext estruturamos diversos procedimentos para garantir o máximo de a segurança jurídica possível de todos os projetos conduzidos por nós. Em conjunto com escritórios especialistas no tema (i) desenhamos um processo de diligência minucioso e rígido, (ii) elaboramos contratos de parceria claros e abrangentes e (iii) montamos um time interno de especialistas para podermos analisar toda a documentação fundiária das propriedades que têm potencial para a geração de créditos de carbono. Esse processo ocorre em conjunto a análises reputacionais dos proprietários.
Nosso levantamento de informações e cruzamento de diferentes fontes de dados (cartórios, sistemas de registros estaduais, municipais, judiciais etc.) regride até o chamado “destaque do domínio público para o privado”, quando as terras da Amazônia Legal foram inicialmente transferidas a entes privados. Analisamos, ainda, toda a sequência de transferências desde então para garantir que a sequência de transmissões até o atual titular em questão é regular. Não pode haver dúvidas sobre a origem nem quanto a sobreposições ou disputas de terras com outros indivíduos ou com o Estado. Em adição, nossas análises documentais são apoiadas por uma fase de visita presencial às propriedades com objetivo de confirmação in loco das informações documentadas assim como o mapeamento de possíveis conflitos não documentados.
Outro tema reportado na matéria é a relação com as comunidades locais. Os nossos projetos têm como elemento fundamental o trabalho com as pessoas que são impactadas por eles. Para garantir a proteção e o envolvimento profundo das comunidades, nossa estratégia é construída por um time que fica baseado em Belém e que é composto de profissionais com experiência em relações com comunidades. Ao longo de sessões de consulta pública garantimos (i) acesso claro a todas as informações, (ii) a participação nos processos de decisão e de implementação de atividades e (iii) a existência de canais abertos de comunicação. A nossa atuação é presencial e conduzida inclusive com profissionais de saúde e segurança que são envolvidos para que todo o trabalho seja feito da melhor maneira para todos.
Os projetos de carbono são temas complexos que merecem atenção em todos os detalhes.
É importante discutirmos e ensinarmos o mercado a diferença entre o que é um projeto com integridade e qual o valor.
6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?
Estou aberta para bater um papo, almoçar ou o que for com qualquer pessoa que esteja pensando em fazer essa transição de carreira. O assunto é realmente apaixonante e faço questão de trazer cada vez mais pessoas para essa agenda.
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