"Contudo, não vejo as discussões abordarem com profundidade o fato de que créditos de carbono não servem como substitutos à descarbonização."
1. Qual é a sua formação e experiência em SBN (soluções baseadas na natureza)?
Embora minha formação acadêmica seja em ciências da computação, sempre fui profundamente fascinado pela interseção entre tecnologia e sustentabilidade. Tenho convicção de que soluções baseadas na natureza desempenharão um papel ainda mais significativo no enfrentamento da crise climática. Além de contribuírem consideravelmente para a redução das emissões de gases de efeito estufa, essas soluções oferecem benefícios adicionais, como o apoio à biodiversidade, tornando-se uma abordagem fundamental para um futuro mais sustentável.
No trabalho que desenvolvemos na Plan A, onde estou há 1 ano e meio trabalhando no time de descarbonização, focamo-nos em contabilidade de carbono e estratégias de sustentabilidade corporativa. Temos o privilégio de testemunhar o impacto positivo que soluções baseadas na natureza podem ter, como a substituição completa do couro por alternativas derivadas de fungos ou cactos, adotadas por empresas inovadoras como a Ganni, um de nossos clientes mais antigos. Nossos projetos, especialmente na indústria fashion, destacam como essas Soluções Baseadas na Natureza (SBN) não apenas promovem a redução de gases de efeito estufa, mas também impulsionam o sucesso empresarial.
Estou entusiasmado com a perspectiva de continuar ampliando a influência da Plan A na introdução de SBN na indústria fashion e em outros setores.
2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?
Na Plan, nossa missão é fornecer soluções de software e serviços sob medida para capacitar empresas grandes e complexas a descarbonizar suas operações e cadeias de valor e responder à mudança regulatória. Dito isso, nossa proposta de valor vai muito além da contabilidade de carbono, com nossa "Plan A Sustainability Platform" fornecendo serviços para compreender, planejar e implementar as estratégias de descarbonização mais vantajosas para nossos clientes de vários setores e mercados.
Nossas equipes dedicadas realizam análises aprofundadas para entender as necessidades e os desafios de nossos clientes para ter operações mais sustentáveis e acompanhar as crescentes exigências ambientais. Nossa equipe de especialistas traz uma experiência significativa nesse campo e tem o compromisso de ampliar nossos serviços para beneficiar cada vez mais organizações.
3. Quais são os números ou insights de mercado que mais entusiasmam você no espaço de SBN?
Cerca de 40% das emissões globais se originam dos edifícios e sua construção e existem alguns fatores que tendem a agravar a situação. Por exemplo, além dos aumentos de temperatura que estamos vivendo, é estimado que 1,8 bilhão de pessoas não possuem moradia adequada. Então é um setor que precisa de muita atenção. Os números crescentes de projetos que aplicam SBN na construção civil me deixam esperançoso de conseguirmos nos adaptar às mudanças climáticas e aumentar o acesso à moradia de uma maneira mais sustentável.
4. Quais são as principais dificuldades ou gargalos que, se resolvidos, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?
Precisamos de legislação que nos ajude a distribuir de maneira mais justa os custos que a crise climática nos impõe. Creio que, caso os governos fossem mais energéticos em reduzir a externalização destes custos com instrumentos adequados, como, por exemplo, impostos maiores para atividades e produtos com alta intensidade de carbono, as SBN iriam crescer exponencial e organicamente. É um assunto delicado para muitos políticos que são apoiados por indústrias que seriam prejudicadas pela eventual introdução de impostos vinculados à emissões de gases do efeito estufa. Estamos observando uma mudança de atitude neste sentido, porém em ritmo mais lento do que é necessário.
5. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?
Observo que a grande parte da discussão em torno de créditos de carbono ser concentrada na sua qualidade e credibilidade. Contudo, não vejo as discussões abordarem com profundidade o fato de que créditos de carbono não servem como substitutos à descarbonização. Muitas pessoas e até organizações tratam a compra de créditos de carbono como um instrumento que lhes dá "crédito" para adiar ou reduzir ações que lhes permita reduzir suas emissões, o que é incorreto.
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