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Um papo rápido com: Vitor Akkerman Aronis, Co-fundador da Regai, um investidor de impacto

"É imperativo que os investidores compreendam que a análise de risco deve incluir cenários de curto, médio e longo prazo considerando as consequências climáticas em todas as decisões de alocação de recursos."


1. Qual é a sua formação e experiência em SBN?


Minha experiência no universo das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) é uma jornada relativamente recente. Eu sou formado em economia e trabalhei durante cinco anos no mercado financeiro. Sempre fui sensibilizado pela agenda de combate às mudanças climáticas, mas a perspectiva de trabalhar no setor parecia algo muito distante.


Até que em 2020, decidi sair do mercado para fazer um MBA no exterior com a intenção de explorar novos horizontes, especialmente na área de finanças sustentáveis e investimentos de impacto. Naquela época, o debate sobre esses temas no Brasil ainda era incipiente. Ao chegar na Europa, fiquei surpreso com o engajamento das empresas na agenda ESG, a inovação na indústria de Climate Tech e outras diversas iniciativas no mercado financeiro.


Ao longo do curso, pude me aprofundar em diferentes teses e especificamente em investimentos de impacto. Foi nesse período que eu tive meu primeiro contato com o conceito de SBN, o que me abriu a mente para uma infinidade de ideias que poderiam ser desenvolvidas nessa vertical.


Ao retornar ao Brasil no início de 2022, comecei a explorar o mercado local e percebi que haviam muitos desafios que poderiam ser abordados por meio de SBN. Durante uma conversa com meu futuro sócio, Pedro Maeda, ele me apresentou o problema das vastas áreas de pastagens degradadas no país. Foi nesse momento que começamos a pensar em soluções para essa questão e, nesse contexto, criamos a Regai.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


A Regai nasceu com a missão de recuperar áreas degradadas por meio da produção regenerativa de alimentos. O nome 'Regai' é uma combinação entre 'Regenerar' e 'Ikigai', incorporando esses dois conceitos fundamentais em nossa abordagem.


Enquanto a sustentabilidade se concentra em manter um equilíbrio entre as necessidades atuais e futuras, a abordagem regenerativa vai mais longe, buscando ativamente a restauração e melhoria dos recursos naturais e ecossistemas, criando benefícios adicionais para o meio ambiente. Já o Ikigai é um termo japonês que representa a ideia de encontrar o seu "propósito de vida". Assim, buscamos técnicas que melhorem a qualidade dos solos para um propósito de vida regenerativo.


Atuamos através da transformação de propriedades rurais tradicionais em ecossistemas altamente produtivos com práticas regenerativas de agricultura e pecuária. Para dar escala à essa atuação, realizamos uma parceria com a Vox Capital e lançamos um fundo de impacto socioambiental. O fundo é focado no investimento e recuperação de terras degradadas para a produção agropecuária regenerativa na região do Cerrado. Este é um passo tangível em direção à concretização de nossa missão e ao compromisso com a revitalização do meio ambiente. Estamos atualmente em fase de captação e mais detalhes podem ser acessados no site da oferta: https://www.fundoregenerativo.voxcapital.app/pt-BR/


3. Quais são os números ou insights de mercado que mais entusiasmam você no espaço de SBN?


A agenda de SBN é essencial para o combate às mudanças climáticas e existem algumas informações e dados que corroboram a necessidade de evolução desse ecossistema.


Um dos principais dados ligado à nossa atuação na Regai é o fato de que mais da metade das terras agrícolas do mundo estão degradadas. Esse é um problema global significativo que demanda uma abordagem regenerativa para restaurar e revitalizar essas terras (Fonte: Fórum Econômico Mundial). Somente no Brasil, segundo o MapBiomas, temos aproximadamente 80M de hectares de pastagens com algum nível de degradação (Fonte: MapBiomas).


Além disso, um estudo da McKinsey revelou que em 2019 a produção alimentar mundial foi responsável por cerca de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Uma das soluções para essa agenda é a adoção de práticas agrícolas regenerativas. Segundo o estudo, os métodos regenerativos podem contribuir para o sequestro de 0,5 a 1,2 GtCO2 dos 6,0 a 10,0 GtCO2 de sequestro anual necessários até 2050. Essas descobertas ressaltam a relevância e a oportunidade do setor de SBN no contexto global (Fonte: McKinsey).


4. Quais são as principais dificuldades ou gargalos que, se resolvidos, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


Eu vejo dois principais obstáculos interligados para o crescimento da agenda de SBN no Brasil. O primeiro deles diz respeito à falta de conscientização em relação ao tema. Muitas pessoas ainda não compreendem as reais consequências das mudanças climáticas. Sem compreender o problema essas pessoas não reconhecem a importância dos projetos de SBN.


O segundo desafio reside na percepção de risco da sociedade, mais especificamente dos investidores, em relação a projetos de SBN. Muitas soluções estão sendo criadas e precisam de incentivo para serem testadas e comprovadas. No entanto, a maioria dos investidores ainda não consegue avaliar a alocação de recursos considerando adequadamente os riscos climáticos.


Portanto, acredito que a educação e a conscientização desempenham papéis fundamentais na superação desses obstáculos. É imperativo que os investidores compreendam que a análise de risco deve incluir cenários de curto, médio e longo prazo considerando as consequências climáticas em todas as decisões de alocação de recursos.


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


Eu acho importante fazer a distinção entre dois conceitos que são comumente confundidos: ESG e Investimento de Impacto.


A diferença fundamental entre ESG e investimento de impacto está nas motivações e objetivos de cada um. O ESG busca incorporar critérios ambientais, sociais e de governança para avaliar e reduzir riscos financeiros e melhorar o desempenho das empresas. Por outro lado, o investimento de impacto tem como foco central a geração de impacto social ou ambiental positivo atrelado ao retorno financeiro. Assim, o investimento de impacto tem como motivação criar resultados mensuráveis e positivos nessas áreas. Ambos desempenham um papel importante na promoção da sustentabilidade, mas têm abordagens e objetivos distintos.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


Sou um grande entusiasta da agenda de SBN e acredito que precisamos envolver cada vez mais pessoas em projetos relacionados a esse tema no Brasil. Tive a oportunidade de acompanhar de perto essa indústria na Europa e tenho certeza de que o amadurecimento dos investidores para apoiar iniciativas semelhantes em nosso país é apenas uma questão de tempo.


Portanto, é importante percebermos que SBN não é apenas uma tendência passageira, mas sim uma agenda estrutural e de longo prazo. Devemos continuar a criar e promover novas soluções nesse espaço. Gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil a importância de perseverar nesse caminho e de incentivar a colaboração e o aprendizado. Juntos, podemos desempenhar um papel significativo na revitalização e na proteção de nosso ambiente e na construção de um futuro mais sustentável para o Brasil e para o mundo.

 
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