"Se você tem o seu projeto com uma boa governança, está sendo bem executado e crescendo de forma orgânica, com certeza você vai conseguir atrair capital e escalar seu projeto. Hoje, existe uma escassez muito maior de bons projetos do que de capital."
1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?
Eu fui criado em São José dos Campos no Vale do Paraíba em São Paulo com meus pais e dois irmãos, e quando tinha 6 meses de idade meu pai adquiriu uma propriedade, que se chamava Fazenda Recompensa, e fazia jus ao nome, era uma área de floresta preservada de mata atlântica vizinha do Parque Estadual da Serra do Mar, ali nascia minha paixão pela floresta. Aos 15 anos tive a oportunidade de estudar nos EUA e morar no estado de Indiana, onde tive muito contato com a agricultura de ponta, inclusive nessa época fiz parte do FFA (Future Farmers of America) que é uma organização que prepara jovens para liderança e carreiras nas áreas de ciência, negócios e tecnologia agrícola.
Voltei ao Brasil e visitei o campus da Esalq/USP em Piracicaba com meu pai, e ali decidi que iria estudar, a dúvida era se seria agronomia ou floresta. Meu pai como um bom agrônomo, disse para mim “o futuro do mundo e principalmente do Brasil é florestal”. Assim foi, me formei como Engenheiro Florestal pela Esalq, comecei na indústria de celulose e papel, e depois fui fazer um mestrado Erasmus mundus na Europa, em países como Finlândia, França e Alemanha. Ali que as portas para economia voltada soluções baseadas na natureza se abriram. Passei a estudar muito esse campo das finanças e como agregar produtos da economia real para restaurarmos florestas nativas.
Assim passei pela primeira empresa que de fato começou com SBN, a Amata, fiz minha dissertação com aplicação de modelos lineares para aumentar a rentabilidade do manejo florestal, colhendo até mesmo menos árvores. Esse trabalho foi inclusive premiado pelo Serviço Florestal Brasileiro em Estudos de Economia e Mercado Florestal. Assim que terminei o mestrado e passei pela Ibá Industria Brasileira de Árvores, ingressei no WRI num projeto emblemático: O Verena – Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas. Esse projeto além de grandes contribuições para a agenda SBN tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com pessoas incríveis como a Rachel Biderman, Miguel Calmon e Roberto Waack, que foram grandes inspirações na minha jornada, que inclusive culminou em passar na certificação CFA e unir os conhecimentos de florestas e finanças.
E por fim, pude conhecer a Symbiosis e o Bruno Mariani durante o projeto Verena, que para mim sempre foi o modelo mais emblemático na área de SBN. Ainda, entre a passagem do WRI e Symbiosis, passei pela Mirova Natural Capital que administrava o fundo ABF para fazer investimento de impacto na Amazônia, dessa minha passagem tenho grande alegria de ter liderado o investimento do fundo no Café Apuí, é um projeto lindo, e na ponta onde todos deveriam chegar. E finalmente a Symbiosis, onde respiramos SBN, literalmente todas as nossas soluções vem da natureza, desde o pólen, a semente, a estaca, a semeadura, o enraizamento, o plantio, os tratos culturais, os desbastes, as colheitas, o processamento da madeira de um pólen selecionado que foi cruzado para produzir a madeira para o cliente.
2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?
Somos uma empresa brasileira tanto de investimentos quanto operacional, com foco na definição de um novo padrão para a indústria madeireira.
O Bioma Mata Atlântica (Mata Atlântica) foi o mais degradado do Brasil, deixou menos de 10% de sua área original e muito fragmentado. Hoje, o mesmo padrão de destruição é observado no Bioma Amazônia, iniciado na década de 70, após o esgotamento dos recursos da Mata Atlântica. Estudos estimam que mais de 70% das espécies de madeira nobre nativas brasileiras provêm de fontes ilegais. A procura nacional e global de madeira indica oportunidades para desenvolver negócios madeireiros sustentáveis, incluindo negócios baseados em espécies nativas, em plantações comerciais.
A Symbiosis traz uma solução disruptiva ao combinar a plantação de espécies mistas com uma abordagem contínua do manejo da cobertura florestal. É uma oportunidade única de produzir madeira de alta qualidade a partir de madeiras nobres nativas extintas comercialmente, carbono, mudas, biodiversidade, em uma operação vertical integrada desde a genética até o produto final. Operar com um portfólio diversificado de espécies com diferentes taxas de crescimento, cores e densidades mitiga riscos climáticos, de sanidade florestal e de mercado. As plantações de espécies mistas são mais resilientes e mais produtivas do que as monoculturas, e o manejo contínuo da cobertura florestal mantém a biodiversidade, os stocks de carbono e de madeira em níveis mais elevados em comparação com o corte raso. Finalmente, investir em programas de melhoramento genético para espécies nativas traz vantagens potenciais de rendimentos mais elevados de madeira e carbono, e vendas de mudas de melhor qualidade. A Symbiosis estabeleceu o primeiro e maior programa comercial de melhoramento genético de espécies arbóreas nativas.
O impacto que mais nos orgulha foi personificado semana passada dando carona para um dos nossos funcionários da Comunidade do Coqueiro Alto de Traconso antes do trabalho, ele disse “A Symbiosis é a melhor coisa que aconteceu na comunidade para quem quer trabalhar, além de ter oportunidade de trabalho temos plano de saúde, alimentação no trabalho e para comprar em casa, sem contar que trabalhamos com a natureza”.
Para nós é isso, queremos não deixar somente o mundo melhor para as pessoas, mas principalmente pessoas melhores para o mundo. E a pauta social é central para o nosso modelo de negócios, antes das árvores, a nossa empresa é feita de pessoas.
3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?
Eu diria que a própria Symbiosis pode ser considerado um caso de sucesso no espaço SBN. Quando a Apple partiu em busca de fornecedores de créditos de carbono, há três anos, a Symbiosis tinha o projeto certo, na hora certa, para oferecer a uma das maiores e mais admiradas empresas do mundo.
Àquela altura a nossa startup entrava em seu 13° ano de vida, depois de estudos, testes de laboratório e um piloto de 1.400 hectares plantados no sul da Bahia, perto de Trancoso. A inspiração é a indústria de celulose, com algumas diferenças importantes. O sucesso do setor de papel e celulose no Brasil era particularmente intrigante. Gigantes como Klabin e Suzano apostaram em melhoria genética e encurtaram dramaticamente o tempo de crescimento das árvores.
Produtores de madeira no Hemisfério Norte faziam o mesmo (apesar de o tempo de crescimento ser naturalmente mais longo). Não funcionaria com espécies nativas brasileiras? Temos muito mais perguntas do que respostas, e exatamente o que nos instiga a continuar pesquisando e está no nosso DNA como startup.
Por fim um número que chama atenção é o consumo global de madeira, que na média é de meio metro cúbico por habitante e cresce mais de 1% ao ano desde a década de 60. Com o fim do desmatamento aumenta a oportunidade para madeiras tropicais produzidas de forma responsável.
4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?
Eu vejo que a principal barreira de entrada nesse setor é capital, e consequentemente a percepção de risco. Floresta, é muito capital intensivo, é fundamental a entrada de capital de dívida para dar escala aos projetos grandes e incentivar a fase de crescimentos dos projetos novos e menores, onde levantar Equity costuma ser um desafio. Então além dos desafios de prazo, carência, a garantia, onde sempre discutimos que o ativo biológico poderia ser usado para tal finalidade ao invés de ficar parado no balanço da empresa.
E finalmente avançar na questão de risco de crédito para precificação, hoje a percepção é tão alta que nem altas taxas são oferecidas, simplesmente a operação não acontece. Acho que esses dois gargalos são importantes para serem trabalhados no mercado de dívidas, risco e garantia. O lado bom é que muitos bancos públicos e privados estão bastante engajados na agenda para destravar o crédito.
Por fim, assim como ocorreu no passado com o setor florestal, a isenção fiscal das primeiras colheitas de madeira poderia também ajudar a escalar o setor, uma vez que essa receita tributária já não existe hoje, ela terá impacto na política fiscal apenas daqui 30 anos.
5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?
Eu vejo muitos novos players no mercado hoje e muitos novos investidores focados no carbono como um ativo fim, ou seja, é única geração de receita, de um produto que é vendido uma única vez. Penso mais no carbono como um meio, justamente para alavancar e transacionar para uma economia de baixo carbono, onde esse ativo apoia outras atividades. Isso pode ser um grande risco de permanência lá na frente.
6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?
Se você tem o seu projeto com uma boa governança, está sendo bem executado e crescendo de forma orgânica, com certeza você vai conseguir atrair capital e escalar seu projeto. Hoje, existe uma escassez muito maior de bons projetos do que de capital.
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