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Visão de Amanda Quaresma, CEO da IARA: Desenvolvendo sistemas agroflorestais nas comunidades.

"A IARA Consultoria Sustentável nasceu para contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Somos amazônidas, vivemos e trabalhamos nesse território e temos uma relação centrada no protagonismo das pessoas em todos os processos que acompanhamos e construímos."

Amanda Quaresma em uma biblioteca
Amanda Quaresma, CEO da IARA Consultoria Sustentável

1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?


"Não posso mais usar metáforas, nem meias palavras. Essa floresta vai secar." Assim falou da Amazônia o poeta Thiago de Mello, e assim inicio essa entrevista que é oportunidade para dar voz a uma mulher amazônida, parda, mãe, estudante, trabalhadora e que busca um lugar ao sol.


Fui a primeira de uma família criada na beira de um rio a entrar na universidade pública e conquistar um diploma, primeira também a cursar um doutorado e espero poder concluí-lo honrando o território da minha família ao ser a comunidade que escolhi para aplicar minha pesquisa e meu produto.


Sendo uma engenheira florestal que carrega raízes ancestrais, não poderia seguir por outro rumo que não fosse o trabalho com povos e populações tradicionais no desenvolvimento de cadeias de produtos da sociobiodiversidade, gerando renda para um povo feliz e mantendo a floresta em pé e viva.


Se existem soluções baseadas na natureza no bioma amazônico, esse é o melhor exemplo que posso mostrar.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


A IARA Consultoria Sustentável nasceu para contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Somos amazônidas, vivemos e trabalhamos nesse território e temos uma relação centrada no protagonismo das pessoas em todos os processos que acompanhamos e construímos.


Fazer consultoria e assessoria socioambiental na Amazônia de forma eficiente e respeitosa é um desafio tanto para o profissional que atua como para a comunidade que recebe a prestação de serviço.


Nós amazônidas não fomos formados social e historicamente para participar de tomadas de decisão sobre nosso próprio território, ao contrário, sempre fomos excluídos de qualquer espaço de escuta ativa qualificada e direcionamento de ações. Então, quando o profissional chega no território e depende da participação da comunidade local para apresentar seu produto, se não houver abertura para diálogo respeitoso, sem imposições de verdades externas sobre uma realidade não conhecida, também não haverá uma relação de confiança que permita esse profissional acessar as informações do território para fazer seu trabalho com qualidade e, principalmente, com eficiência entregando o produto que responda a demanda local.


Então, a IARA tem uma série de metodologias participativas com abordagem colaborativa que permitem a entrada nas comunidades locais com respeito e responsabilidade para entregar os produtos demandados. 


3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?


Hoje temos uma parceria com uma cooperativa agroextrativista, a CAEPIM, que gerou um projeto recentemente aprovado em edital do FINEP sobre bioeconomia e a partir de 2024 vamos iniciar a execução da proposta que prevê a implementação de uma agroindústria modulada dentro do container para beneficiar o fruto do açaí, e outras espécies da região, agregando valor na origem da produção, com tecnologia de ponta e valorização de saberes tradicionais geracionais.


Existem outros pontos que serão trabalhados no projeto, como incentivo e formação para técnicas de manejo de mínimo impacto e voltados para a gestão da biodiversidade local, entendendo o potencial que a floresta em pé e viva pode proporcionar com produtos e serviços que tem crescido nos mercados nacional e internacional. Inclusive convidamos a NatureHub a acompanhar essa jornada pelos próximos 3 anos de projeto.  


4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


É fundamental quebrar as barreiras impostas ao protagonismo comunitário com valorização do conhecimento tradicional. Nós consultores e assessores precisamos entender que a "solução dos problemas" já está no território, sempre esteve e sempre estará.


A maior ameaça a sociobiodiversidade, desequilíbrio climático e injustiça socioambiental é fruto de um modelo de sociedade reproduzido nas zonas urbanas, baseado em consumismo e uso irracional dos recursos naturais, mas os primeiros afetados estão justamente onde a relação entre sociedade e natureza tem outro compasso, nas zonas rurais.


Então temos que quebrar a lógica de que agentes externos aos territórios chegarão com soluções prontas para resolver um problema que não foi criado pelas populações tradicionais e tão pouco são de responsabilidade deles.


Mas entender que reconhecer, valorizar e incentivar práticas ancestrais que garantem a manutenção da biodiversidade baseada numa relação respeitosa, podem mudar o jogo e nos deixar mais próximos de alcançar um equilíbrio climático. 


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


Fato é que estamos vivendo um novo ciclo econômico na Amazônia, capitaneado por um conceito emergente e ainda em disputa nas agendas científicas, políticas e econômicas, onde a bioeconomia surge como solução para a mitigação de emissão de gases do efeito estufa e para uma transição energética.


Mas estamos falando, mais uma vez, de algo que vem de países industrializados para países em desenvolvimento e que, não necessariamente, se conecta com a realidade e demanda local.


Então devemos considerar inclusive que estamos no páreo dessa disputa, lutando pelo reconhecimento da sociobioeconomia que sugere valores que favoreçam o fortalecimento de economias compatíveis com a floresta em pé e seus rios fluindo, valorizando o conhecimento e os modos de vida tradicionais do povo da floresta.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


O pedido que faço é "abram seus corações, olhos e ouvidos para a floresta e o povo da floresta". Não sou porta voz de ninguém além de mim mesma e por isso falo da minha perspectiva, uma amazônida que trabalha com a Amazônia em sua essência, com sua sociobiodiversidade e ancestralidade, o que não é fácil de "encaixar" nos padrões do mercado, mas é necessário para alterar a lógica imposta a nós, se há projeto de desenvolvimento sustentável para a Amazônia ele é endógeno, ancestral e sociobiodiverso!


 
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