"Na Violet, promovemos a agricultura regenerativa como uma estratégia financeira sustentável, onde os benefícios econômicos são intrinsecamente ligados à saúde do solo e ao bem-estar ambiental."
1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?
Sou Martha de Sá, fundadora da recém-criada Violet, uma spin-off da VERT, fundada em 2016. A VERT foi pioneira na emissão de social bonds e green bonds e em estruturas de securitização que conectam investidores institucionais a pequenos tomadores. Minha jornada no campo das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) começou com a missão de integrar práticas sustentáveis dentro do mercado financeiro.
Em outubro de 2021, participei da COP26 em Glasgow, onde foi lançada a Iniciativa IFACC (Finanças Inovadoras para Amazônia, Cerrado e Chaco). A experiência na COP26 despertou em mim uma paixão pelo desenvolvimento sustentável, que se solidificou durante uma visita à Amazônia pouco tempo depois. Essa viagem me fez perceber a necessidade urgente de acelerar e ampliar a agenda de finanças sustentáveis e soluções baseadas na natureza no Brasil.
No início de 2023, a VERT e a Vox foram selecionadas para aceleração pelo The Global Innovation Lab for Climate Finance no projeto LATM (Low-Carbon Agriculture Transition Mechanism), reforçando nosso compromisso com práticas agrícolas sustentáveis. Conforme os projetos foram avançando, percebi que essa era uma dedicação de tempo integral, exigindo muito comprometimento. Por isso, decidimos fazer o spin-off e criar a Violet, e agora estou imersa na agenda de sustentabilidade e finanças sustentáveis.
2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?
A Violet tem como missão viabilizar financeiramente projetos que promovam a sustentabilidade no setor agrícola, com foco no uso da terra e Soluções Baseadas na Natureza (SBN). Nosso modelo de negócios é centrado na criação de jornadas de crédito em cinco verticais: pecuária sustentável, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), recuperação de áreas degradadas, agrofloresta e bioeconomia, e conservação e restauração.
Entendemos que, para construir pontes e garantir a integridade entre grandes empresas que precisam assegurar cadeias de suprimento livres de desmatamento, investidores institucionais e pequenos produtores, precisamos verticalizar as operações desde a originação do crédito até a gestão do fundo de investimentos.
Nosso diferencial está na combinação de expertise digital e conhecimento profundo do mercado financeiro e agropecuário, o que nos permite criar soluções escaláveis e eficientes. Isso nos permite reduzir custos de transação e aumentar a transparência em todas as etapas do processo.
3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?
Estamos especialmente empolgados com o crescimento do interesse e investimento em práticas agrícolas sustentáveis no Brasil. Por exemplo, nossos pilotos na VERT com Natura e Agrogalaxy resultaram em commitments de investidores como GEF, JGP, Fundo Vale e a Good Energies Foundation. Estes números refletem a confiança do mercado em nossas iniciativas e a crescente demanda por soluções financeiras que promovam a sustentabilidade.
O Mecanismo Amazônia Viva (piloto com a Natura), foi um divisor de águas nessa agenda e pela primeira vez trouxemos o mercado de capitais em uma estrutura de blended finance com um veículo de assistência técnica para financiar a sociobiodiversidade, com o objetivo de beneficiar mais de 10 mil famílias na Amazônia e contribuir para a conservação de mais de 3 milhões de hectares de florestas nativas.
Além disso, a seleção da Violet como startup do Cubo Itaú evidencia como as agendas de agro, sustentabilidade, finanças e tecnologia estão cada vez mais integradas.
O Brasil está numa janela muito relevante para a agenda de sustentabilidade como protagonista do G20 e da COP30. Ver o Banco Central do Brasil (BCB) lançar o Techsprint Technology for the Planet, sendo um dos problem statements focado em Soluções Baseadas na Natureza (NBS), reforça ainda mais esse compromisso.
4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?
Um dos principais desafios no crescimento da SBN é a falta de histórico, padronização e escala. De um lado, falta acesso a financiamento adequado para pequenos produtores rurais. De outro, investidores institucionais enfrentam uma complexidade regulatória e uma escassez de pipeline de projetos viáveis.
Outra dificuldade é que muitos consideram apenas a Amazônia e a bioeconomia. Soluções Baseadas na Natureza (NBS) precisam ser vistas de forma mais ampla, incluindo todos os biomas, especialmente o Cerrado, além da Amazônia, e setores como pecuária e grãos. Precisamos ter um olhar transversal sobre esse tema.
A necessidade de assistência técnica contínua para garantir o uso correto dos recursos é outra barreira significativa. Se eu puder ter um desejo, seria criar um ecossistema financeiro mais inclusivo e simplificado, que possibilite a todos os produtores acesso a recursos necessários para a transição para práticas sustentáveis. A implementação da Taxonomia Sustentável Brasileira pode ser um passo crucial para padronizar e facilitar esse acesso.
5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?
Acredito que o conceito de "agricultura regenerativa" é frequentemente mal compreendido. Muitos a veem apenas como uma técnica agrícola, mas ela envolve um compromisso holístico com a restauração dos ecossistemas. Na Violet, promovemos a agricultura regenerativa como uma estratégia financeira sustentável, onde os benefícios econômicos são intrinsecamente ligados à saúde do solo e ao bem-estar ambiental.
Outro conceito que merece ser melhor contextualizado é a amplitude das Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como falei aqui na questão anterior. Muitas vezes, a discussão sobre SBN é limitada à Amazônia e à bioeconomia, mas é essencial entender que essas soluções abrangem todos os biomas e diversas práticas agrícolas. Na Violet, adotamos uma visão ecossistêmica, garantindo que as soluções sejam aplicadas de maneira integrada e adaptada às especificidades locais, promovendo uma sustentabilidade inclusiva e eficaz.
6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?
Gostaria de incentivar a comunidade do NatureHub a continuar fomentando a inovação e a colaboração no espaço das Soluções Baseadas na Natureza (SBN), incluindo o desenvolvimento de soluções e ferramentas tecnológicas, bem como a padronização de práticas e frameworks.
Juntos, podemos superar desafios e criar soluções que não só beneficiem o meio ambiente, mas também fortaleçam a economia local e global. Esta é uma agenda que envolve múltiplos stakeholders, e ninguém conseguirá avançar sozinho. Convido todos a conhecerem mais sobre nossos projetos e a se envolverem conosco em iniciativas que promovam uma agricultura sustentável e financeiramente viável.
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